quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Espiritismo e a questão social

Embora se preocupe diretamente com a vida futura ou extraterrena, não deixa o Espiritismo, todavia, de cogitar do bem-estar humano, discutindo os aspectos fundamentais da questão social. Não se pense, pois, que a Doutrina Espírita seja omissa nos pontos essenciais da vida terrena. E tanto é verdade, que o Espiritismo encara a questão social com realismo, situando-a racionalmente no ângulo em que ela se encontra. Neste ponto, conquanto não concorde com a solução puramente científica, divergindo assim, da dialética materialista de Engels e de Marx, o Espiritismo é objetivo, é muito objetivo até, porque não é nas regiões etéreas nem pela prática de penitências, mas no mundo material, pelo aperfeiçoamento das próprias instituições sociais, que procura a solução da luta entre o capital e o trabalho.
Embora o conflito social, que não é deste século, mas um fenômeno peculiar ao desenvolvimento da civilização, tenha a sua origem nas relações humanas, não pode ser resolvido exclusivamente por meios materiais. Coerente com este princípio, o Espiritismo não esposa a tese materialista e analisa a questão à luz de outra ordem de ideias. Neste momento de confusão universal, talvez nem todos os estudiosos dos problemas sociais, incluindo-se possivelmente alguns espíritas, tenham procurado conhecer o pensamento da Doutrina a respeito da questão social.
O materialismo admite o nivelamento geral enquanto que a Doutrina Espírita explica as desigualdades à luz da reencarnação, valendo recordar que a dialética materialista considere o assunto como sendo problema fundamental da sociedade e tendo natureza econômica.
Ora, a questão social existe, sim. Os problemas são evidentes. Mas o Espiritismo e o materialismo histórico encaram a questão por prismas diferentes. O Espiritismo não nega a existência da questão social, uma vez que a má distribuição da riqueza, produzindo a opulência de uns e a miséria de outros, é um fato notório e incontestável. A Igreja Católica Romana também reconhece que a riqueza não está sendo distribuída com equidade, pois não é outro o pensamento da encíclica Rerum Novarum. (1)
A questão social existe porque há desarmonia entre o capital e o trabalho, determinando o conflito de classes. Mas as soluções propostas são desiguais, de acordo com as divergências filosóficas.
Tomando-se por premissa a negação da existência da alma, está claro que o materialismo não pode chegar à conclusão espiritualista, dentro de cuja concepção o problema do homem não é exclusivamente econômico. O Espiritismo, neste particular, não diverge da Igreja, porque ambos admitem, sem qualquer atrito filosófico, três pontos primordiais: a) existência de Deus; b) imortalidade da alma; c) preponderância do princípio moral. Até aí não há divergência. A discordância entre o Espiritismo e a Igreja, em matéria filosófica, começa quando se abre a questão reencarnacionista. Embora seja também espiritualista e tenha, como o Espiritismo, aqueles três pontos de coincidência, a Igreja não admite a reencarnação e, por isso mesmo, não pode apreciar as desigualdades sociais com a mesma visão da Doutrina Espírita.
Não aceitando o princípio da igualdade absoluta, justamente porque a concepção igualitária entra em conflito com a teoria da reencarnação, o Espiritismo prescreve, todavia, solução pacífica, condicionada ao progresso moral. Pouca gente, porém, sabe o que diz a Doutrina Espírita acerca do debatido e complexo problema social. É o aspecto menos estudado no Espiritismo. Entretanto, não conheço orientação mais segura, mais equilibrada do que esta que encontramos em Obras Póstumas, de Allan Kardec (9ª edição, pág. 361): “Por melhor que seja uma instituição social, sendo maus os homens, eles a falsearão e lhes desfigurarão o espírito para a explorarem em proveito próprio.”
Como se vê, a reforma social exige, antes de tudo, a reforma do individuo. Nenhuma transformação violenta resolve o problema do equilíbrio social sem obter, primeiramente, o progresso moral pela educação do espírito. A chave da questão social não está na subversão radical das instituições, porque ainda que se substitua a estrutura da sociedade ou se dê nova organização ao Estado, sem elevar o nível moral das massas, haverá os mesmos choques, uma vez que o egoísmo humano subsiste em qualquer situação. Só se poderá aperfeiçoar o mecanismo social com o gradativo aperfeiçoamento individual. A tese espírita, portanto, é realista, senão talvez a que menos se aproxima da utopia, porque se baseia no conhecimento da natureza humana.
Temos aqui, neste pequeno trecho, a interpretação da luta entre o capital e o trabalho, à luz da Doutrina Espírita: “A questão social não tem pois, por ponto de partida a forma de tal ou qual instituição; ela está toda no MELHORAMENTO MORAL dos indivíduos e das massas. Aí é que se acha o princípio, a verdadeira chave da felicidade do gênero humano, porque então os homens não mais cogitarão de se prejudicarem reciprocamente.” (Allan Kardec em Obras Póstumas, já citado).
Não aceito a tese comunista porque não vejo traço de afinidade entre Comunismo e Espiritismo. Não creio que a questão social possa ser resolvida satisfatoriamente por meio da solução econômica, quando é certo que as necessidades do homem não são apenas as de ordem material. O problema econômico não contém em si mesmo toda a extensão e complexidade da questão social. Portanto, a problemática das desigualdades sociais não se subordina, exclusivamente, ao desajustamento econômico. Ela reclama indagações de maior transcendência, acima do plano material, embora prevaleçam, é bem verdade, até certo limite, as causas de ordem biológica.
De acordo, pois, com a Doutrina Espírita, não creio na solução materialista. Não encontro semelhança de concepções entre a doutrina materialista e a Doutrina Espírita, porque reconheço a prevalência de três razões que considero substanciais:
a) O Espiritismo, dada a vocação de sua doutrina, está em desacordo com o materialismo, e, portanto, encara a questão social sob ponto de vista diferente.
b) Em face da reencarnação, a pedra filosofal do Espiritismo, a igualdade absoluta é impossível, sob pena de derrogação da Justiça Divina.
c) O problema da felicidade humana, tendo raízes profundas no Espírito, e não exclusivamente na matéria, está condicionado à reforma moral do indivíduo, porque na sociedade composta de indivíduos desorganizados e corrompidos, não pode gozar-se a plenitude de paz e de justiça.
Quando, pois, o indivíduo é mau, nenhum regime consegue convertê-lo em homem de bem, sem que ele se reforme interiormente. A Doutrina Espírita prescreve, exatamente por isto, a reforma do indivíduo para que se possa reformar o grupo. E sem a reforma individual, sem a observância do fator moral com base na existência do Espírito, não se destrói o antagonismo social provocado pela luta de classe e pela desproporção dos bens materiais.
Se, sob o aspecto filosófico, vejo profunda divergência entre o Espiritismo e o Comunismo, porque aquele apoia toda a sua filosofia na existência e sobrevivência do Espírito, enquanto este se baseia no materialismo histórico, não é menor a discordância sob o ponto de vista político. Ora, politicamente o Comunismo admite o direito do Estado sobre a propriedade privada, o que está em desacordo com os princípios espíritas. Veja-se Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (Parte Terceira, cap. XI). O regime que melhor corresponde à índole da Doutrina Espírita é a democracia, porque a estrutura filosófica do Espiritismo não se adapta a nenhuma forma de poder totalitário. O nacionalismo estreito é tão contraproducente quanto o internacionalismo incondicional. A democracia é regime de conciliação, de equilíbrio, porque repele instintivamente qualquer hegemonia e permite a participação de TODOS no progresso comum, sem distinção de classes.
O sistema democrático, embora sujeito a deformações humanas, também evolui, marchando para o reinado pacífico da grande democracia cristã. Os exclusivismos são prejudiciais à ordem social, porque o progresso da sociedade depende da cooperação de todas as classes e não apenas de uma só classe.
A democracia cristã não comporta a precedência de nenhuma classe social sobre as outras, mas, ao contrário, oferece oportunidade para o bem-estar coletivo, o entendimento, a solidariedade, dentro da Justiça Social iluminada pelo Evangelho. Qualquer ditadura, seja de um indivíduo ou de uma classe, de um partido ou do Estado; seja do capitalismo ou do proletariado, da cruz ou da espada, da ciência ou da fé, não oferece ambiente propício à livre manifestação do pensamento porque é sempre unilateral. Dentro de um regime democrático não pode subsistir qualquer exceção de classe em detrimento da liberdade humana.
A questão social deixará de ser o pesadelo da civilização quando cessar a exploração do homem pelo homem com a socialização do capitalismo. O Estado é entidade abstrata. Logo, não é o Estado que traz a felicidade geral. O Estado é bom quando os homens são bons. O maior problema, portanto, é melhorar os homens. Creio, nesse caso, que a Democracia Cristã, sem o predomínio de uma classe ou de outra, mas pela união de todas as classes, realizará a maior missão social da História, resolvendo o conflito entre o capital e o trabalho, para o bem-estar geral.
Por todas estas razões é que à luz da Doutrina Espírita não aceito a tese materialista nem qualquer doutrina que reconheça a supremacia do deus Estado. Creio, finalmente, que a questão social, segundo a concepção da Doutrina Espírita, será resolvida, cedo ou tarde, mas pelo processo normal de evolução.
A desarmonia entre as classes (patrões e empregados, ricos e pobres, chefes e subordinados, governantes e governados) não será destruída pelo providencialismo de uma fórmula ou de um sistema, e sim pela compreensão recíproca, pela exatidão de consciência, pelo sentimento de tolerância, quando cada um, em qualquer circunstância ou posição em que se encontre, sem que se faça necessária a fiscalização ou a rigidez da lei, souber viver e agir dentro da sabedoria universal do DEVER.
Nota do PENSE:
(1) Rerum Novarum (Das Coisas Novas), encíclica escrita pelo papa Leão XIII em 1891, trata das condições da classe trabalhadora causadas pela Revolução Industrial. É considerada como um dos pilares da Doutrina Social da Igreja.
Fonte:
Mundo Espírita, dezembro de 1945. Periódico espírita de Curitiba-PR, órgão de divulgação da Federação Espírita do Paraná. Esse artigo foi incluído no livro Análises Espíritas, de Deolindo Amorim, compilação feita pelo escritor espírita Celso Martins e publicado pela Federação Espírita Brasileira.
Deolindo Amorim



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

DIÁLOGO COM O REAL METAFÍSICO E EDUCAÇÃO DIALOGAL (1)

Isso significa uma educação destituída de autoritarismo. Uma relação de amor e respeito deverá permear o processo educativo, uma vez que nada justifica uma pretensa superioridade do professor que compartilha a vida com os alunos ao invés de impor-lhes disciplinas e autoridade. Todos têm voz e vez e será a criança, o jovem, o adulto que deverão indicar de onde partirá o processo educativo, ouvidos em seus interesses e necessidades.
Significa, também, que é preciso desenvolver nos educandos essa capacidade de análise, de confronto do revelado e das ideias com a realidade, e sobretudo, o direito de interrogar, tornar a interrogar, comparar, discutir, com aquele que pretenda dirigir o processo de ensino. Essa foi a atitude de Kardec para com os Espíritos e não raras vezes ele os interroga até a exaustão de um assunto ou até que digam que não sabem ou não têm meios de explicar-nos.
Essa atitude indagadora, de diálogo com os instrutores, de análise das respostas, de comparação e conclusões baseadas em fatos, merece da parte dos educadores espíritas muita reflexão.
Todos os métodos que nos levem a tirar conclusões impossíveis de serem analisadas e confrontadas com os fatos reais, sensíveis devem servir apenas como opiniões, hipóteses, possibilidades futuras, ou teorias.
Sem esse bom senso na análise dos fatos, estaremos voltando aos comportamentos mágicos e míticos, fantasiosos e imaturos.
A Revelação democrática impõe um ensino e uma educação também democrática que se embase numa participação cooperativa, onde todos, do mais sábio ao mais simples e ignorante, tenham voz.
Do diálogo, o método por excelência da Revelação Consoladora, deve-se retirar o método pedagógico.
Há no método dialógico a magia de perguntar, ouvir e tornar a indagar, para desenvolver numa relação dialética a consciência do homem.
Existe um educador brasileiro que teve um pai espírita, e foi espiritualista, que demonstra uma profunda compreensão da importância do método dialógico na educação. Sua visão da importância do diálogo como método de educação e de desenvolvimento da consciência, valeram-lhe mais de vinte títulos de “doutor honoris causa” das melhores Universidades do mundo.
Diz ele que existem homens que são dominados pela consciência que apenas atinge seus problemas biológicos e vitais. Esse homem vem da natureza e está na natureza, mas não consegue ainda captar os problemas e questões que a realidade propõe a todo ser inteligente.
Nessa condição ele se volta para a magia porque não consegue perceber as relações de causalidade entre os fatos. Como as crianças estabelece relações entre fatos próximos ligados à emoção, mas não consegue estabelecer as verdadeiras causas e seus efeitos. Seus problemas e os de sua vida, sua saúde, seus amores, seu salário, devem ser resolvidos pelos espíritos, pelos santos, pelos orixás, aos quais promete muitas coisas numa relação mercantil.
A realidade é vista supersticiosamente. O homem com esse tipo de consciência não consegue ver sua missão no mundo.
No entanto, na medida em que age no mundo, o homem relacionando-se e dialogando com outros homens é capaz, por si mesmo, de despertar para outro tipo de consciência. Agora, não mais uma consciência tão somente mágica e supersticiosa, mas uma consciência com um nível histórico, onde ele se percebe capaz de transformar a realidade e resolver os problemas que antes entregava aos espíritos, a Deus, ou aos orixás.
No entanto, essa nova forma de consciência interpreta os problemas de modo simples e ingênuo. Ainda persistem as explicações fabulosas, que ele prefere àquelas realistas. Os argumentos para essas explicações são muito frágeis, persiste um forte cunho emocional nos raciocínios. É a consciência do homem massificado, que pode dialogar mais amplamente mas, sem suportar ainda a consciência crítica, pois emocionalmente precisa de certezas absolutas. Tende o homem então a fanatizar-se.
A consciência sem atingir a criticidade tende a fanatismos. Não consegue assim chegar à causalidade. O mítico e o mágico fazem perdurar a falta de lógica e a irracionalidade. Temeroso do mundo e da sua missão, prefere explicações e soluções fantasiosas. Quer prescrições e regras, teme a liberdade. Não consegue se conduzir.
É o homem que prefere acreditar que, no Terceiro Milênio, os espíritos maldosos serão impedidos de reencarnar automaticamente, a aceitar o esclarecimento contido na questão 1019 de “O Livro dos Espíritos”, que afirma: “Mas os maus só a deixarão (refere-se à Terra), quando o homem tenha banido daqui o orgulho e o egoísmo.”
São aqueles que adoram explicações fantasiosas e veem a influência de santos, anjos e espíritos nas coisas mais naturais.
Acham “soluções simples” para questões complexas. Não percebem a organização sistêmica da natureza [1] e raciocinam com ingenuidade comovente dizendo que o homem resolverá o esgotamento da Terra, com cidades cobertas com cúpulas de vidro e agricultura aquática ou aérea. A tecnologia resolverá todos os problemas ecológicos. Será, também, a reforma íntima de cada um somada a de outros que produzirá uma sociedade nova. Cada um, individualmente educando-se, a sociedade será transformada.
No entanto, a medida que amplia seu poder de compreensão e de diálogo as respostas que vai colhendo às questões que surgem ou que percebe, começa a adquirir o nível de consciência crítica. Essa consciência embasada em fatos, sem deformar a realidade, aprende, num esforço consciente da vontade e da inteligência, a interrogar, verificar, confrontar e provocar.
A passagem da consciência ingênua para a consciência crítica não é automática. Exige o estudo, o diálogo, a indagação. Para pensar criticamente, o homem necessita aprender a se sentir seguro sem precisar deformar a realidade.
Aprendendo a criticar e se sentir seguro não vai necessitar de certezas fanáticas.
Pelo fato de ser dialógica e de se aprofundar no estudo das causas, a consciência crítica faz constantes revisões nas suas “certezas” e por isso não é polêmica, nem passional. Essa consciência percebe que tem que se comprometer com a realidade para poder alterá-la. A consciência crítica é a que compreende e realiza um diálogo constante do homem com o homem, do homem com o mundo e do homem com o seu Criador.
É essa consciência que se atinge através de uma educação dialogal e ativa, voltada para a solidariedade, e que se aprofunda na interpretação dos problemas.
Como substitui as explicações mágicas por princípios causais, essa consciência sempre se dispõe a testar os “achados” e a revisar as conclusões. Sua argumentação será segura, evitando as deformações. Sua prática é o diálogo e não a polêmica, sempre aberta ao novo, sem recusar o velho, sempre testando a validade na prática e na realidade. A consciência crítica está sempre inclinada à indagar, argüir, impactar e provocar novas reflexões, outras soluções.
Com uma educação que desenvolva tal consciência o homem não pode deixar de se compromissar para “banir da Terra, o egoísmo e o orgulho”.
Vimos como o diálogo, a indagação, produzem a abertura da consciência e sua criticidade. Não foi outro o resultado da coragem de Kardec ao dialogar com os Espíritos, ao invés de como outros místicos e estudiosos simplesmente passar ensinos prontos de mestres espirituais.
Seria por acaso que o Brasil, onde o Espiritismo se radicou, tenha um educador brasileiro conhecido e respeitado no mundo todo, que ressuscitou o método dialógico, fazendo-o básico de toda educação?
O educador brasileiro reconhecido em todo mundo, que desenvolveu o método dialógico como básico à educação é Paulo Freire.
Em educação, dialogar significa aprender a ouvir por parte de educador e do educando. Ouvir para partir do conhecimento e do interesse do educando. Ouvir para perceber o outro e aí sim, olhá-lo, senti-lo, tocá-lo, trabalhar com ele, movimentar-se com ele, equilibrar-se com ele. É como se através do tato expandido, passemos a sentir o nosso semelhante em seus limites, em suas necessidades, em suas grandezas e em sua pequenez.
Trabalhar em equipe, com nosso semelhante, significa saber prever, planejar, organizar, dividir tarefas, comandar a execução, avaliar o trabalho, verificar responsabilidades e resultados. Isso significa ensinar a decidir o que vai ser feito, o que vai ser cobrado de cada um, para que cada um entenda sua parte, se esforce e a execute. Significa deixar sem fazer a parte que não nos cabe para ensinar ao outro, com infinito amor, como a obra se ressente da sua falta de responsabilidade.
Temos um conceito muito errôneo do que significa amar. Amar segundo nos ensinam é nada exigir, tudo dar, fazer tudo pelo outro, tudo suportar, sem nada exigir, certos de que nosso exemplo e nosso amor sensibilizarão as criaturas. Se nós fizermos tudo pelo outro, além de o prejudicarmos por não lhe ter dado oportunidade de crescer fazendo e criando, estaremos nos prejudicando por estarmos sobrecarregando-nos com tarefas que podem e devem ser divididas. Não foi assim que Jesus ensinou. Ele dividia as tarefas do grupo apostólico, corrigia, às vezes, com inusitada energia as intenções e as pretensões dos discípulos, mostrou-lhes em diversas vezes as dificuldades da vida que iriam enfrentar por amor à causa do Evangelho.
No processo evolutivo do princípio inteligente também passamos da consciência mágica, para a ingênua e desta, através do diálogo, do estudo ou de uma boa educação, para a consciência crítica. Isso só se faz na relação homem mundo e através do diálogo, do relacionamento e da troca entre os seres. A passagem da consciência mágica para a ingênua é automática, mas a passagem para a consciência crítica necessita do relacionamento dialogal, do estudo e da troca constante entre os homens.

Maria Eny Rossetini Paiva


(1) Asas para o infinito, Ed. EME, 1ª ed. abril de 1999 cap. 3, tópico 3.5. Maria Eny Rossetini Paiva é pedagoga, com especialização em Orientação Educacional, Supervisão e Administração Escolar, Psicopedagoga, Supervisora de Ensino da Secretaria de Educação do Estado de S. Paulo, aposentada, Diretora da Casa dos Espíritas, Departamento Meimei Seara de Amor.



[1] Sobre Teoria dos sistemas e organização sistêmica da Natureza, o Curso de Educadores terá aprofundamentos nos Módulos II e III.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O ESPIRITISMO E A POLÍTICA CONTRIBUINDO PARA O MUNDO DE REGENERAÇÃO

Aylton Paiva
“O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados”. ( A Gênese, Allan Kardec, cap.XVIII, item 25 – g.n.)
O ESPIRITISMO
A Doutrina Espírita apresenta tríplice aspecto: Filosofia, Ciência e Religião, por isso ela se relaciona com todas as áreas do conhecimento humano. Seus princípios embasam a ação transformadora no aprimoramento da pessoa e da sociedade.
No contexto social ela propõe ações sociais que podem ser compreendidas como ações políticas devidamente compatíveis com as análises e propostas das Ciências Sociais. Sob esse aspecto o Espiritismo estuda e traz importantes informações relacionadas com a Ciência Política e a Ética. Analisemos, então:
POLÍTICA
A política, sob a análise da Ciência Política, é a ciência e a arte da administração justa para o bem comum. Sob esse aspecto ela se serve dos conhecimentos de outras ciências sociais, como: a sociologia, a antropologia, a história e a economia.
Seu objetivo é o aprimoramento da estrutura da sociedade a fim de que ela seja mais justa e solidária. É, também, a proposta do Espiritismo.
Disseram os Mentores Espirituais na questão nº 930 de O Livro dos Espíritos: “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome”.
E Allan Kardec, em seguida, esclarece: “Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário. Porém suas próprias faltas são frequentemente resultado do meio onde se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor”.
Nesse ponto, o Espiritismo já assinalava a necessidade dos estudos e ações propostos pela Ciência Política. Portanto, nesse sentido, a Política e o Espiritismo não se repelem.
POLÍTICA PARTIDÁRIA
A outra conotação do termo política é a política partidária, que nada tem a ver com a corrupção, falsificação, desonestidade e falta de ética.
Na organização e funcionamento dos países democráticos os Direitos Humanos, proclamados pela ONU, regem as Constituições, as leis e inspiram a estrutura e organização social que se assenta nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Essa é organização social ideal, embora as imperfeições que ainda possa ter.
Os cargos dos poderes: Executivo e Legislativo são preenchidos pelo sistema de eleição de pessoas que se candidatam, através do voto, por intermédio dos partidos legalmente registrados.
Logo, para se manter esse processo livre e democrático a existência dos partidos políticos é fundamental. Eles, como organização política, não são responsáveis pelas pessoas de mau caráter que se filiam.
Diferente é o poder judiciário, pela sua função técnica. Seus cargos são preenchidos por pessoas que, devidamente habilitadas em conhecimentos científicos e técnicos das Ciências: Jurídica e Social se submetem a concurso público para preenchimento das vagas.
Consequentemente, a existência da política partidária, através da pluralidade de partidos é fundamental nos Estados democráticos, afastando os regimes totalitários de direita ou de esquerda, que não permitem a liberdade.
Nesse ponto, cabe o alerta que os Mentores Espirituais fizeram quando Kardec indagou:
- “Porque, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
 - Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.” (Questão nº 932 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Ed. FEB)
Portanto, é na hora do voto que os cidadãos de bem precisarão afastar os” maus candidatos” que, sem dúvida, são: “intrigantes e audaciosos”, bem como desonestos no exercício do poder.
POLITICALHA
O termo política é, às vezes, mal empregado e não devidamente compreendido levando as pessoas a uma confusão muito grande: a ponto de dizerem que detestam a política.
Quando analisada a causa que as leva a afirmar que detestam a política compreende-se claramente que essas pessoas detestam e se indignam com a “politicalha” ou “politicagem”, ou seja, as ações daqueles que estão atuando na política partidária, quer no Poder Executivo ou no Poder Legislativo e agem de maneira desonesta, não ética, para atingirem seus objetivos egoísticos emoldurados pela corrupção ativa ou passiva.
E elas estão muito certas em sentirem essa indignação, contudo só a indignação não basta. É necessário que a ação social de repúdio se realize no engajamento aos movimentos de “saneamento” da política partidária.
É preciso melhor compreender os significados do termo política, através de uma educação política que possibilite o exercício consciente da cidadania.
Ante o mau exercício da política por pessoas desonestas, falsas, corruptas, de mau caráter é que a indignação dos bons deve se elevar para evitar que assumam os cargos nos quais visam exclusivamente seus interesses pessoais e dos grupos que participam.
Obviamente, diferente é quando se almeja o interesse pessoal ou de grupo com aspirações legítimas e éticas para o bem comum.
CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE JUSTA E AMOROSA
Juntamente com os bons cidadãos, os espíritas devem participar e influenciar levando os valores éticos do Espiritismo para as pessoas e instituições que organizam a sociedade.
Essa é uma lídima participação política para uma sociedade mais justa e amorosa na qual se consolidará o Reino de Jesus, expresso no Mundo de Regeneração que os Orientadores Espirituais assinalaram para o nosso educandário planetário – a Terra, em seu próximo passo na escala evolutiva.
Assim, que cada espírita esteja consciente para assumir a sua cidadania no exercício do seu poder político: seja como eleitor amoroso e responsável ou de conformidade com a sua aptidão e vocação pleitear cargos eletivos para servir à coletividade; bem como, devidamente habilitado, concorrer aos cargos do Poder Judiciário.
O que não deverá ser feito é levar a política partidária para dentro dos Centros, das Entidades ou do Movimento Espírita, pois esses locais não são adequados ao seu exercício.
Fazer do voto um elevado testemunho de amor à coletividade, visando sempre o aprimoramento da sociedade para o Mundo de Regeneração.
Estamos na transição!
Se estiver de acordo, exerça a sua cidadania e divulgue este texto. Será uma autêntica ação social para o Bem.
Aylton Paiva
Aylton Paiva é estudioso da Doutrina Espírita para sua aplicação na pessoa e na sociedade (www.ayltonpaiva.blogspot.com / e-mail: paiva.aylton@terra.com.br).